Thursday, March 28, 2019

Entrevista exclusiva a Luciano Barbosa da banda musical portuense Repórter Estrábico


Introdução a uma entrevista 




Um simples gajo nascido na invicta


Descia umas quaisquer escadas, o frio era imenso, caía chuva da grossa no meu corpo, as minhas mãos estavam ensopadas enquanto vislumbrava vultos escondidos em sombras. 
 Tinha a noção que precisava de uma simples esferográfica BIC e um pedaço de papel, olhei para a minha esquerda e algo perdido olhei também para a direita, um candeeiro iluminava o meu caminho e num dos seus buracos encontrei os acima mencionados objectos para a escrita manuscrita desta entrevista. 
 De repente e sem eu contar os meus auscultadores estavam a tocar uma música que levemente me transportava para casa.
 Pensei para mim mesmo:
- Que som é este que coloca a minha alma a levitar?




Desenho feito pelo artista Sérvio Branko Djukic baseado num qualquer gajo na invicta


 Lembro-me de ter chegado a casa e num qualquer écran digital tinha lá escrito o nome da banda "Repórter Estrábico", fiquei com uma sensação estranha no corpo (como se de repente fosse novamente um adolescente), perdido numa qualquer cidade, pensei para mim mesmo que talvez somente uma esferográfica e um papel não fossem suficientes para uma entrevista ao líder desta banda Luciano Amaro Barbosa que andava a reconquistar a mui nobre e invicta cidade do Porto.
 Acabei por comunicar quase por sinais de fumo com o Luciano, na pseudo entrevista abaixo descrita enquanto bebia um vinho do Porto e fumava um cigarro com uma citação duma série na minha mente ausente que tinha estas palavras lá escritas no meu pensamento:
"Um velho amigo uma vez contou-me algo que ele leu e que me deu paz de espírito. Ele disse-me que Mozart, Beethoven e Chopin nunca morreram, simplesmente transformaram-se em música"


Uma série de TV



E num estado meio desgarrado/ensonado fiquei realisticamente a sonhar... Sempre a sonhar... 


Num sonho

Entrevista a Luciano Barbosa 


1. Ouvi dizer (ou talvez tenha escutado no longínquo programa dos anos 90's Pop Off) que os Repórter Estrábico durante uns períodos no tempo tomaram conta da invicta (admito que fiquei assustado na altura e com uma nova música da vossa autoria em 2018 fiquei ainda mais assustado).





 Poderias me dizer como fizeram vocês para conquistar uma cidade invicta?


Na cidade do Porto 




Desde 1985 que fomos tomando de assalto este País, e como o Porto é e sempre foi a cidade onde compomos e ensaiamos, é natural que a conquista tivesse começado por aí.

Um repórter estrábico



2. Lembro-me mais uma vez de ter escutado uma música vossa dedicada ao grande mito americano John Wayne e inclusive a um tubarão. Poderias nos descrever um pouco do que são os Repórter Estrábico?

Um tubarão que ataca John Wayne


O Repórter Estrábico sempre teve uma forte componente visual para acompanhar as canções tocadas ao vivo; é, pois, natural que fosse buscar grandes vedetas do cinema e da TV aos quais revestisse de música e letra. Toda a nossa discografia está repleta de ídolos. Também fizemos um tema dedicado a John Wayne Bobbitt, que ficou famoso depois da mulher dele lhe ter decepado o pénis por infidelidade conjugal.





3. O vosso primeiro álbum chamado "uno dos" de 1991 entrou nos meus ouvidos na altura com um som destilado e talvez até requintado. 
 Poderias nos dizer porque é que uma banda do Porto dá um nome a um álbum seu com números em castelhano?
O título surge a partir do tema "Wooly Bully", de Sam the Sham & The Pharaos, que começa com a frase: "Uno, dos... One, two, trés, quatro"...


01


3. Existiram umas travessias no deserto com o lançamento dos vossos primeiros quatro álbuns chamados "uno dos" de 1991, "1 bigo" de 1994, "Disco de Prata" de 1995 e "Mouse Music" de 1999. Poderias explicar um pouco do processo de gravação dos mesmos exceptuando o "Disco de Prata" que foi lançado imediatamente a seguir ao "1 bigo"?



uno dos

1 bigo


Disco de Prata

Mouse Music



O processo de gravação é sempre algo complicado, porque não é fácil transpor para a gravação o desempenho que se tem ao vivo. O "uno dos" não foi especialmente difícil; estávamos bem preparados e o Vítor Rua ajudou muito na pré-produção. O "1 bigo" foi talvez o mais melindroso porque se perderam as pré-misturas e foi preciso regravar tudo e o resultado não foi o esperado. "Disco de Prata" foi gravado ao vivo em estúdio, numa festa com amigos, e serviu para mostrar como soávamos ao vivo na altura. "Mouse Music" teve uma produção de luxo, a cargo do genial Alex Fx, que tudo fez para que soasse como queríamos. Foi gravado em Vigo, nos extintos Aura Estudios, que tinham uma escuta fenomenal desenhada pelo sonoplasta Philip Newell.

Vítor Rua 


Alex FX

Philip Newell

4. Em 2004, vocês lançam o vosso quinto álbum chamado "Eurovisão", com um hiato de nove anos.
 Poderias nos dizer, o porquê deste mesmo hiato tão grande comparado com o período de tempo com o lançamento dos quatro ábuns anteriores que foi de 1991 até 1999?

Eurovisão

"Eurovisão" foi uma edição de autor, posto à venda com o jornal Blitz e contou com a genial colaboração de João Neves. Comemora os 30 anos do 25 de Abril e foi um tiro no escuro, que acabou por ser um tiro no pé. Quase todas as rádios receberam muito mal o disco pelo seu explícito conteúdo antifascista e chegou a ser boicotado pelas maiores estações.
O hiato explica-se pelo facto de todas as nossas canções serem originais e que um disco conceptual é um processo mais demorado.

5. Para minha grande surpresa e enquanto ando eu a tentar conquistar a Europa, noto que em 2018 (por tua indicação), os Repórter Estrábico lançaram uma nova música chamada "Separa o Lixo" que eu simplesmente adorei. (Noto que o hiato de lançamento desta música ainda é maior que os anteriores).
 Qual é a mensagem que uma banda como os Repórter Estrábico são tenta passar para o público a nível sonoro e visual?





A mensagem é que se divirtam connosco e que "quem dança seus males amansa".

6. O que sempre gostei nos Repórter Estrábico foi o seu espírito inconformista.
 Achas que os Repórter Estrábico irão algum dia entrar numa qualquer zona de conforto?


Acho que não. Se bem que nos espectáculos de 2017 me tive de apoiar num andarilho, que a idade pesa. Para as próximas subidas a palco, vou precisar duma enfermeira geriátrica.

Um repórter estrábico ao vivo em 2017


7. Poderias nos dar a tua opinião sobre o que viste, viveste, vives e vês hoje em dia na cidade do Porto através de momentos associados a uma qualquer (i)lógica de memória?

O Porto está muito mudado e não necessàriamente para melhor. Vejo o mesmo que vejo em Lisboa: o êxodo dos habitantes da Baixa e centro da cidade face à voragem da construção civil
apoiada pelo despotismo camarário. Vejo tascos e cafés a serem engolidos pela febre gourmet e os petiscos pelos pratos de autor. O dinheiro manda, nada de novo.

Santa Catarina - Porto


8. Que pensas do panorama musical português desde o seu inicio até aos dias de hoje, passando uma pseudo liberdade (como foi o caso do 25 de Abril), até agora?

Uma pseudo revolução 


Não me debruço muito sobre esse assunto, porque o Repórter Estrábico é apátrida e faz música intergaláctica.
A viragem política que veio com a Revolução tem sido vergonhosamente mal aproveitada pela cabotinagem e pelos valores corruptos dos sucessivos governos.
Lamento sobretudo o facto de não se ter aproveitado para limpar os alicerces podres da sociedade lusa, em vez de se alindar a fachada com uma lambidela de tinta.

9. Poderias escalpelizar um pouco as referências artísticas internacionais dos Repórter Estrábico?

Alan Vega e Suicide; Afrika Bambaata; Cameo; Can; The Clash; Bad Manners; Burt Bacharach; DAF; Dexys Midnight Runners; Detroit Techno; Enio Morricone; Eddie Cochrane; Fad Gadget; Kraftwerk; Manu Dibango; Mano Chao; The Ramones; Serge Gainsburg; Screaming Jay Hawkins; Soft Cell; The Specials; The Stranglers; The Sex Pistols; War with Eric Burdon e todos os outros que aparecem em samples nas nossas canções.



10. Qual é a tua opinião sobre movimentos artísticos que tentam entrar numa metamorfose/simbiose com o tempo e inclusive novas geraçőes de seres humanos?
Sou todo a favor da tecnologia ao serviço do homem; eu, que sou agnóstico, deposito muita fé nas técnicas de regenerescência que a medicina está a desenvolver.
Havia um estudo sobre o genoma responsável pelo crescimento dos dentes do tubarão. Terá sido abafado pela máfia ortodontista, mas seria fixe termos a capacidade de nos crescer um dente sempre que o perdêssemos, como acontece com os esqualos.  

Dentes de tubarão 

11. Como vês o fenómeno do objecto real nas artes estar a ser substituído rapidamente por algo digital e efémero?
Sou a favor de todas as formas de expressão artística; o suporte é insignificante, importante é o artista expor o seu trabalho ao grande público.

12. Se pudesses convidar um qualquer artista internacional de qualquer período de tempo para um simples copo na ribeira, qual escolherias?
O Elvis Presley, mas não ia com ele a nenhum Burger King.


Elvis Presley

Epílogo 

Sem pensar muito na entrevista que provavelmente não iria acontecer e acabou por acontecer, fiquei deveras agradado com as respostas do Luciano, sentindo o meu corpo a mover-se com energia intergaláctica enquanto ia escutando o tema "separa o lixo" da banda portuense Repórter Estrábico num frenesim constante onde o meu objectivo era tentar sentir a cidade onde nasci no meu interior através de algo simples como é o caso da música, estando em pleno século XXI, a guardar as memórias de um tempo em que era um adolescente, tendo a certeza que os animais não falavam ou comunicavam somente através da sua beleza.
 Obrigado novamente ao Luciano pela frontalidade nas suas respostas, as quais tentei ilustrar com algumas imagens assim como elementos multimedia entre as suas palavras.
 Obrigado ao artista Sérvio Branko Djukic e a todos os artistas internacionais que transportaram ou estão a transportar o meu corpo físico para obras de arte conforme pode ser visto em posts anteriores neste mesmo blogue numa relação bipolarizada escrita/multimedia para uma futura autobiografia na Europa assim como a todos os artistas internacionais ou músicos que acabaram por partilhar ou irão ainda partihar algumas ideias/conjugação de factores de comunicação em entrevistas neste ou noutro idioma para darem a conhecer um pouco do seu mundo interior aos seus fãs e que também podem ser lidas noutros locais deste blogue onde o colectivo deve sempre predominar sobre o individual num conceito de artes unificadas devido ao facto de um cérebro se ter perdido, dando origem a um espírito livre.
Manuel 

Á procura dum cérebro






Sequential love story/arts project - Part 96 - International artists

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