O coração bate e bate....
A alma vai sendo desmembrada..
Fumo um cigarro e não olho para o relógio...
Procuro o meu tigre...
Procuro a minha gata...
Num qualquer oceano esquecido, imagino um vento que me sussurra algo ao ouvido...
Penso no filme "o estranho mundo de jack" de Tim Burton...
Imagino o terror do deus morfeu e de como baloiça os sonhos e os pesadelos nas suas mãos enquanto vai agarrando areia que encontra numa qualquer praia...
Observo com exactidão, um lugar para onde suspiro...
Não penso muito, sou desgarrado...
Olho para todos os lados e toda a gente parece que vai a correr em direção a um precipicio, sempre a olhar para as horas, enquanto eu caminho calmo com os meus sentimentos e as minhas recordações numa caixa toráxica que vai sendo amassada com fumo inalado para os meus pulmões...
Falam-me de uma personagem de banda desenhada chamada Valentina e de trabalho e trabalho, como se as ideias surgissem do nada...
Por vezes sinto-me cansado, outras meio abandonado á sua sorte e enquanto percorro as ruas da cidade que me viu nascer e na qual irei provavelmente falecer, vou olhando para todo o lado...
Sinto o meu coração arrancado, sinto algo que bate e bate como um relógio suíço.
Por vezes recordo-me das minhas memórias e de um tigre em cima de uma mera televisão ou de como as minhas gatas corriam, comiam e miavam enquanto me olhavam olhos nos olhos..
Falam-me de muito coisa ao mesmo tempo e vou agindo por instinto num mundo capitalista e egoísta que não quero entender.
- Um falso desequilíbrio, poderá ser todo o equilíbrio que irás ter na tua vida.
Alguém me diz isto.
Continuo a caminhar sem destino, sem pensamento e com alguma emoção.
Trabalho e trabalho e trabalho, sem saber muito bem para quê ou para quem.
Continuam a falar-me de princípios, valores, sentimentos enquanto eu vou escutando e tentando construir o puzzle de 20.000 peças que está na minha mente.
Tenho 43 anos e não enterro nada ou ninguém nas minhas memórias ou recordações, pois tento ter um discurso directo e introspectivo para mim mesmo.
Alguém comunica comigo acerca da vida enquanto vou tentando retirar fantasmas do meu armário.
Olho para a minha comida e por vezes o sabor da mesma é indigesto, outras tem o sabor de todos os paladares do mundo.
Olho para as minhas sobrinhas ou para fotos da minha família e dos meus amigos e parecem-me somente dispositivos do puzzle que tento construir no meu coração e mente.
Vislumbro o rio douro e a ponte D. Luis na Invicta enquanto murmuro algo para as suas águas.
Lembro-me de frases como : "Descobre o tigre que há em ti" ou "Tu és mais forte que o super-homem"
Recordo-me de vários momentos em que me pediram a minha semente num claro objectivo de ter filhos...
Esqueço-me de muita coisa... Imagens, pessoas, caras, corpos que ficam deformados ou alinhavados com o tempo...
Olho para o relógio... Observo uma ampulheta...
Com alguma destreza vou observando o meu telemóvel que fica sem comunicação (como se de uma mera pedra se tratasse).
Continuo sem pensar enquanto olho para o mar numa mera tentativa de com a mente o abraçar.
Toco no meu rosto, toco na minha cabeça que explode e explode e explode.
Só caminho num qualquer percurso complicado de fazer, onde por vezes me sinto como uma mosca apanhada numa teia de aranha.
Vou imaginando livros na minha cabeça por mim organizados no meio do caos, só com a ajuda de papéis e um mero IPad.
Penso em quadros alinhavados em exposições contemplativas pelo mundo fora que alguém poderá apreciar.
Vou continuando a pensar na metamorfose de corpos numa narrativa nunca perdida ou esquecida.
Vícios, hábitos, rotinas vão me sendo constantemente sonegados como se eu estivesse a fazer um mero papel numa peça de teatro onde os figurantes valem muito mais que os actores principais.
Olho para o sorriso da minha sobrinha mais nova e de como adora organizar os meus livros.
Continuo a olhar fixamente para uma foto emoldurada da minha gatinha Ilvie e por vezes sinto-me perdido e outras nas quais vou-me encontrando e outras em que me sinto esquecido.
Vou esquecendo as palavras, música, livros, arte contemplativa ou mesmo pessoas enquanto olho para uma mera televisão onde passa um jogo de futebol.
Tomo um café, fumo um cigarro, como algo, caminho sem destino como se fosse uma mera marioneta movida por alguém.
Não penso, logo sonho, dizem-me que não existo, logo persisto.
Encadeio palavras e palavras misturadas com imagens no tal puzzle de 20.000 peças que estou a construir lentamente.
Escuto sons, tento ser movido pelo olfacto, pela visão, pelo tacto.
O meu coração continua a bater lentamente enquanto vislumbro árvores nuas com raízes estendidas no solo.
Olho para uma mera t-shirt e vejo a minha gatinha Ilvie com um desenho incrível do artista argentino mister ED.
Carrego numa mochila dois livros que tenho medo de ler, pois as suas narrativas podem destruir o meu sonho de construir o quadro gigantesco com 20.000 peças que estou a construir.
Dizem-me para ir para outro sítio, outro ponto deste planeta azul e respirar um tipo de oxigénio diferente.
Continuo a olhar para o relógio, continuo a olhar para uma mera foto emoldurada, continuo a ver papéis que escrevi e escrevi ao longo da minha existência.
Não penso na minha identidade, não reajo quando me dizem coisas que não entendo, mas penso para mim mesmo qual seria a minha reacção num local diferente onde tentam me ameaçar com algo que desconheço.
Vou pensando num livro com páginas arrancadas, colocadas dentro de garrafas e lançadas ao mar e o coração continua a bater e bater enquanto tento imaginar o que irei fazer.
Para a minha gatinha Ilvie
Manuel Espírito Santo