Friday, September 15, 2023

Lisboa



Qual cidade embebecida em doces traços de melancolia na sua beleza interior, ela grita e manifesta-se de uma forma expansiva:
"Quem és tu, desterrado que tentas descobrir a minha alma?" 
"Quem és tu, militante ditador de um conceito ávido de conhecimento, num mundo ao qual não pertences?"
"Queres contemplar a Boca do Inferno?"
Queres percorrer a existência de almas no bairro alto?"
"Queres uma mera bica com um copo com água?"
"Porque é que me vislumbras com tanta insensatez?"
"Eu sou uma cidade que grita, que pulsa, que fervilha de vida interior e exterior"
"Queres manipular-me com meras palavras teleguiadas?"
Eu fico sensível à sua beleza e contemplo pessoas que pulam numa cidade cosmopolita em frenesim. 
Percorro o caminho desde o cais do sodré até ao terreiro do paço, passando pela rua augusta e sempre a contemplar o lado esquerdo do centro da cidade.
Faço o percurso: baixa/chiado, trindade, bairro alto, glória até ao marquês, sempre a tentar visualizar os tesouros duma cidade que gosto e que procuro entender.
 Visualizo as suas estátuas, os seus cafés apinhados de gente numa constante caricia/malícia.
 Vou-me interrogando o porquê de não a sentir na minha alma como a minha cidade, mas eu não nasci ali, não a conheço, vou conhecendo-a, vou procurando-a, qual alma torturada que procura um caminho que deve ser mais que uma mera casualidade.
Em todos os locais, procuro a sensação de que a conheço, busco incessantemente uma forma estranha de a amar e consigo sempre descubri-la nos meus intersticios memoriais, vou pensando para mim mesmo:
- Um pedaço de pão
- Magia no ar
- Sentidos deslocados e inacabados.
- Jogos e momentos de extase contínuo.
- Desejo de libertação numa cidade inundada de gente.
Ela vibra, ela sente e eu qual trauseante vou passando no seu pavimento de uma forma gloriosa. 
Queria ver o "Control" do Corbjin...
Queria andar em livrarias á procura de mantimentos para a mente ou de mantimentos para o estômago...
 A cidade ri e chora e eu tento escutá-la com exactidão e começo a amá-la como se fosse mais que um desejo puramente carnal.
Lisboa, numa noite quente e inóspita.
Lisboa, num dia com o sol a cobri-la.
Lisboa e o seu manto negro vestido de estrelas puras como a neve.
De repente, começo a divagar e peço-lhe isto:
- Quero escutar-te.
- Quero entender o teu chamamento.
- Quero sentir as tuas artérias a pulsarem ao meu passo.
Vou deambulando pelas suas artérias, num sentido constante de obrigatoriedade com o firme propósito de amá-la tanto um dia como a cidade onde nasci e cresci.



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