Saturday, May 2, 2020

Um poema para a Mónica Pinheiro


Não sabia onde estava...
Não sabia se o vento soprava...
Nem sequer imaginava se algum barco naufragava...
Tu contavas-me algo:
- O tempo está demente...
- O ser humano está ausente...
- Talvez o sol já não se encosta ao poente...
- Saber ser...
- Nutricionar o prazer...
- Dividir a raça...
- Nunca deixar ser consumido pela traça...
- Ler um livro num tempo ido...
- Usar máscara sobre máscara...
- Não pensar...
- Algo no ar...
- Na retoma está a soma...
- Dois + dois = cinco...
- Tudo num brinco...
- Circo de Natal...
- Algo natural...
- Nada igual...
- Cansaço = abraço...
- Talvez...
- Sempre talvez...
- Para que remar com um vírus no ar?
Fico a pensar no que me dizes:
- Talvez um eufemismo seja naturalismo...
- Talvez a semântica seja romântica...
- Talvez a matemática seja práctica...
- Um símbolo numa árvore espraiado...
- Uma cor num corpo desvairado...
Respondo-te:
- Levei com um prato na cabeça...
- Ficou a certeza da sua natureza...
- Cacos no rosto como posto...
Colocas uma música a tocar a desbravar o ar...
Falas de como o mar está limpo como um brinco...
De como as tartarugas dão á costa num desejo/ensejo onde a sua certeza é o traquejo...
 De como elefantes já não têm cemitério, mas sim um hemisfério...
Perguntas-me isto:
- Nunca te perdes entre palavras?
- A realidade e a ficção andam sempre contigo de mãos dadas?
Respondo-te:
- Tenho a certeza que não...
- Sei onde está a minha razão e o meu coração...
- Sempre fui bem simples e normal...
- Viver numa chamada sociedade desigual...
- Carne para canhão...
- Balas para a emoção...
- Tanto ser humano perdido...
- Recordações onde todo o mal foi tempo ido...
- Sonhos num estado presente na minha mente...
- Dizem que sou inteligente...
- Sei que sou somente uma pequena faísca num fabuloso planeta azul onde o devir é algo constante a vir...
- Sem estórias...
- Sem nada esquecer...
- Sem nada perder...
A música continua a tocar...
Mencionas-me que o céu está em comunhão com a lua a amar...
Sem sequer te observar...
Não penso...
Três palavras assolam-me:
- Realidade...
- Suavidade...
- Identidade...
Sabendo que acabo por ser sequestrado por uma qualquer entidade...


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