Thursday, November 7, 2019

Um tributo ao actor hungáro Bela Lugosi em dois poemas para a gatinha Ofélia numa autobiografia

A gatinha Ofélia - 01

- Não sou a musa de Pessoa...
- Sou uma coisa boa...
- Não sou a tua inteligência...
- Sou a tua essência...
- Não sou o teu momento...
- Sou ar, terra, fogo e vento num só tempo...
- Não faço parte de uma tribo...
- Sou um ser vivo...
- Não sou uma extensão sem fim...
- Sou parte de quem me abraça num sentido nada perdido... 
 A gatinha Ofélia vai-me dizendo isto enquanto estou constipado e a Sandra fica parada e não constipada... 
 Limito-me a percorrer os movimentos do seu corpo num porto...
- Para que é que estás parado num tempo nada irado?
- De que serve um livro quando estou ao teu lado sem um triste fado?
- Serei a tua musa difusa numa relação com paixão?
 A Ofélia pergunta isto à Sandra...
- Vamos percorrer o nosso mundo sem fundo...
- Vamos ser um ser uno sem sequer o parecer...
- Vamos bailar, gritar e dançar até desmaiar... 
 A Sandra responde-lhe
Os olhos da Ofélia vislumbram o que mais ninguém vê.
Os ouvidos da Ofélia captam o som de um qualquer movimento feito por um pé.
O pelo da Ofélia é macio como se o mundo fosse somente um ténue fio...
As patas da Ofélia são marcas ancestrais nada desiguais... 
 A Ofélia sonha:
- Amanhã será um dia normal...
- Talvez seja um dia desigual...
- A chuva cai sem parar e eu sei quem tenho para amar... 
 Ela levanta-se ao acordar do sonho toda catita e bonita.
 Pede comida sem uma qualquer partida... 
 Observa todo o movimento do teu corpo nada morto...
- Para que é que servem copos, garfos ou colheres?
- Para que servem simples talheres?
 Pergunta a Ofélia à Sandra.
 A Sandra limita-se a observar a Ofélia, pois a sua vida irá ser uma mudança constante com ela do seu lado num instante.
- Tu...
- Sim... 
- Tu...
- Que escreves sobre mim...
- Será que o teu mundo não tem fim?
 Pergunta-me a Ofélia isto sem eu saber o que poderá acontecer...
- São palavras com sentimento...
- São acções sem um mero lamento...
 Vou respondendo isto à Ofélia enquanto ela acaba por ver em mim não um intruso, mas alguém um pouco difuso...
- Tu...
- Sim...
- Tu...
Acaba por nos dizer isto a Ofélia no seu momento de lazer com prazer.

A gatinha Ofélia - 02

- Tenho sono...
- Não tenho dono...
- Tenho sonhos...
- Não são medonhos...
- Sinto-me preguiçosa...
- Não sou receosa...
- Gosto do meu momento...
- Não gosto deste tempo...
- A que horas chegas a casa?
- Preciso dos teus braços como uma asa...
- Tenho luz...
- Não preciso duma cruz...
- Vai dizendo isto a Ofélia à Sandra enquanto ela acende a Salamandra...
- Como ocupaste o teu tempo?
- Será que colocaste a minha casa num tormento?
- O teu pelo está macio como um fio...
- Que andaste tu a fazer no teu lazer?
 A Sandra pergunta isto à Ofélia.
- Procurava pelo entardecer...
- Pelo anoitecer...
- Pelo nosso prazer...
- Não reparas nos meus olhos meio cansados de estarem irados?
- Observa as minhas patas...
- Estão molhadas devido a húmidas e escritas actas .. 
 Diz a Ofélia à Sandra...
- Viste o nosso amigo pato?
- Onde meteste o nosso amigo rato?
- O que é que fizeste com o meu sapato?
- Meu Deus, o que te vale é que a tua beleza é a minha certeza... 
 A Ofélia ronronava sem parar e sempre a sonhar falando com a Sandra.
- Que fizeste tu neste dia?
- Criaste alguma magia?
- Escuta a música lá fora sem demora...
- Alguém escreve sobre nós a viva voz...
- Será isto um sonho onde de repente a ficção é a realidade em acção?  
 A Ofélia vai perguntando isto à Sandra que acaba por ser a sua mãe e o seu pai sem sequer esboçar um mero "ai"...
 O prato está cheio de whiskas... 
A Ofélia pede pataniscas... 
A água está fria...
A Ofélia torna-a morna com magia...
- Os meus cabelos rapariga...
- Ai, que nem sei o que te diga...
- As tuas unhas na minha face...
- Ai, que enlace... 
 Vai dizendo isto a Sandra à Ofélia.
 A Ofélia sorri... 
 O seu sorriso é um contínuo riso...
A Sandra olha para os minutos e segundos...
Parece que acaba por estar com a Ofélia noutros mundos nada profundos...
- Sandra, anda dormir comigo...
- Sabes bem que preciso do teu umbigo...
E a Sandra sem saber o que dizer, acaba por se encostar à Ofélia sem nada fazer...


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