Uma história de amor para a minha alma gémea Hélia De Sá Teixeira

- Nunca fomos o que sabemos...
- Somos o que conhecemos...
- Não somos um mistério...
- Somos um hemisfério...
Murmuro isto na tua direção enquanto velo pelo teu sono sem dono...
 Penso em dois livros nada perdidos ou esquecidos...
 De repente acordas e agarras-me com ânsia como se tivesses acordado de um sono de infância...
 Murmuras-me isto meio a sonhar sem pensar no ar:
- Memórias nunca são histórias...
- A tua mão junto ao meu coração, tem paixão...
 Falas-me de muita coisa enquanto te preparo o café e estás de pé...
- Ser ponta de lança...
- Ser mais que uma dança...
- Ser poesia viva...
- Numa alma nascida...
- Ser...
- Sem parecer...
 Noto pouco açucar no nosso café, apesar das chávenas estarem quentes e efervescentes...
 Coloco manteiga no pão enquanto sinto a tua mão...
 Nada expresso via oral, pois acaba por ser algo natural...
 Dizes-me:
- O teu rosto nunca está húmido, o sal que ambos temos é desigual...
- O teu olhar nunca está parado ou sossegado...
- O silêncio para ti é uma pauta numa flauta...
Abro o frigorifico e escolho a geleia de framboesa vislumbrando a tua beleza...
 Pedaços de pão continuam sem ser amados por manteiga ou geleia como se fossem uma simples ideia...
 Voltas a dizer-me:
- Não me deixes...
- Escuta o nadar dos peixes...
- O coração do homem...
- Sei que sabes amar...
- Sei que sabes remar...
- Sei que sabes caminhar...
- Forte e vigoroso...
- Nunca nervoso...
- Amar é uma virtude...
- Não é uma atitude...
- Escrever em papel...
- Saborear o mel...
- Somos um no nosso mundo sem fundo...
- Sei...
- Bem sei que sabes que sei...
- Rainha e rei...
Continuo a barrar o pão com emoção...
Pedes-me um desejo enquanto comes uma fatia de queijo...
 A tua voz continua a ecoar na casa:
- Noite perfeita...
- Nada desfeita...
- Sol sem farol ou anzol...
- Amar-te é parar sem pensar...
 Eu observo o teu olhar enquanto vestes as minhas calças e lhe colocas umas alças...
 De repente um pardal poisa junto à nossa janela...
Diz-me para te observar sempre bela...
Canta uma doce melodia com energia...
Eu simplesmente não penso que penso ou sonho que sonho, pois estando ambos juntos sabemos que o mundo não é medonho...
- Mais uma vez, anda lá...
- Um do li tá. ..
- Somos o que fomos e seremos...
- Num passado/presente/futuro onde o amor não sabe a pão duro...
 Sorrio para ti...
 As chávenas já estão vazias...
 Os pedaços de pão já não estão...
 Nada cansada ou irada dizes-me isto:
- Gosto muito sempre...
- Nunca estamos ausentes...
- Sempre presentes...
- A nossa soma nunca é uma simples retoma...
- 1+ 1...
- Nunca talvez...
- Sempre de vez...