Wednesday, April 1, 2020

Um poema para a minha amiga de infância Mónica sobre uma ilha.



- Não era um acto...
- Era um facto...
- Junto a um rio estava um fio...
Dizia-te isto com memórias de criança.
 Casas empilhadas...
 Casas lavradas...
 Tirares sem sete mares...
 Não jogava futebol...
 Não tinha medo de um farol...
 Somente observava como numa ilha tão pequena, a tarde nunca era amena...
- Que sabia eu?
- Que sabias tu?
 Interrogava-me para mim mesmo sem uma ponte ou sequer uma fonte...
 Tu dizias-me isto:
- Era tudo natural...
- Para nós era tudo igual ou desigual...
- Não tínhamos pavor de contos de terror...
- Acreditávamos num sentimento chamado amor...
- Não existia fogo...
- Não existia jogo...
- Existia um moinho...
- Existia um cestinho...
- Não existia medo...
- Não existia um único segredo...
 Eu não pensava, somente observava...
 Mil e uma memórias de um caminho com escuridão era o que tinhamos à mão...
 Relembrava-te isto:
- Não existiam casas de banho privadas...
- Andávamos sempre todos de mãos dadas...
- Estávamos dentro de uma cidade com idade e identidade. ..
- Existiam campos verdes onde a castanha se fundia com teia de aranha...
- Existia alegria todo o dia...
- Sempre com energia...
- A nossa união vinha do nosso pequeno/grande coração...
- Existia sempre tempo para paixão...
 Eu continuava sem falar...
 Limitava-me a escrevinhar...
 Limitava-me a sonhar...
 A nossa comida era escassa e algo baça...
 Eramos feitos à prova de bala em qualquer sala...
 Não éramos soldados em verdes prados...
 Éramos crianças a brincar sem lanças...
 Roupas de moda para quê?
 Vivíamos num mundo nada perdido num tempo nada  esquecido...
 Voltei a relembrar-te:
- Éramos crianças com arte...
- Sem engenho...
- Com empenho...
- O leite que bebíamos vinha num saco...
- Não tínhamos sequer um casaco...
- Nada era opaco...
- Uma broa de mel numa confeitaria do dia anterior era todo o nosso amor num mega sabor. ..
- Não éramos super-heróis...
- Não éramos girassóis...
 Sei que a vida mudou e o presente se encontra doente...
 Tu dizes-me isto:
- Nunca ausente...
- Passar a pressão de uma infância como criança...
- A tua mente sempre foi constante...
- Nada dizias, observavas tudo num instante...
 Sem pensar...
 Sem sonhar...
 Éramos soldados sem fados. ..
 Do tamanho de um animal de estimação, mas sempre  com o coração na mão...
 Tu em nada pensavas...
 Eu deixava o tempo correr com algum prazer no lazer...
- Era uma ilha numa cidade...
- Era a nossa idade...
- Era uma entidade...
- Era o momento no tempo onde a invicta nos dizia isto:
- Simplesmente GRITA...
- Sois a calma da minha alma...
- Sois a razão duma nação...
- Sois a certeza da nossa divina paixão...
- Sei que têm garra com ilusão...
- Sois os homens e mulheres que irão mudar o mundo sempre a fundo numa ilha onde a alegria era uma constante apesar de estar sempre tudo imundo...
- Sois parte do meu pensamento neste tempo...
- Sois parte do meu lamento neste presente tormento que não irá ficar perdido no tempo num qualquer momento...




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